A Aposta de Pascal

'Ou Deus existe ou não existe.'
Mas qual das alternativas devemos escolher?
A razão não pode determinar nada:
existe um infinito caos a nos dividir.
No ponto extremo desta distância infinita,
uma moeda está sendo girada
e terminará por cair como cara ou coroa.
Em que você aposta?


Blaise Pascal, Pensamentos (edição póstuma, 1844)



A aposta de Pascal poderia ser dita de várias maneiras, como da forma como se segue:

“Não é melhor aceitar Jesus pois na pior situação nada se perde e na melhor, pode-se ir ao Céu? Já quem nega Jesus, nada ganha e corre o risco de ir para o inferno”.


(Imagem: Blaise Pascal. Extraída daqui. Para Pascal era impossível provar que Deus existe. Ele afirmou que a razão humana é incapaz de provar qualquer coisa com certeza. Para ele, a grande pergunta era se convinha acreditar na existência de Deus, e sua resposta era que você seria tolo se não acreditasse. A demonstração de Pascal emprega a matemática da probabilidade, que ele ajudou a inventar (ele esperava convencer especialmente seus arnigos aristocráticos, que eram jogadores fanáticos).


Outras versões desta pergunta seriam com 'profetas' como: Krishna (que teria aparecido por volta de 5 000 anos atrás), Moisés (teria aparecido 3300 anos atrás), Siddharta Gautama (por volta de 2560 anos atrás), Maomé (por volta de 1380 anos atrás) , Allan Kardec (por volta de 200 anos atrás), etc., ou ainda a deuses como Shiva, Brahma ou Vishnu, Alá, etc., e com outras promessas como atingir o Nirvana, ter outro carma, etc.

Assim, as escolhas não se reduzem a "Deus existe" ou "o ateismo está certo". Ou ainda não se resume a escolhas como céu e inferno. Existem vários deuses alegados e para todos não existem evidências. Mais do que isto: alguns evangélicos por exemplo, diriam que os católicos vão para o inferno. Poder-se-ia, então, dizer que existem pelo menos 2 tipos de deus cristão (2 tipos de cristianismo) alegados. (Na verdade existem muitos tipos de cristianismo.) Não apenas isso, mas o islamismo também tem suas vertentes (sunitas, xiitas, etc.) bem como vários outros teísmos.

Existe ainda o espiritismo: kardecismo, Umbanda e Candomblé, etc., além dos hinduismo, judaismo, com suas vertentes, etc. Então não é "sim ou não" e sim várias possibilidades. Em várias possibilidades por exemplo, mesmo tendo posturas diferentes, pessoas teriam o mesmo fim. "deus não existe" e "existe o deus cristão e leva os crentes para o Céu" é reduzir demais o número de escolhas, quando na verdade há um número infinito de escolhas possíveis. Sem contar que ainda poder-se-ia alegar que o(s) deus(es) verdadeiro(s) não pune(m) ninguém.

Assim, esta aposta é tão falha em tantos aspectos é surpreendente que alguém ainda a siga. Ademais, não seria racional acreditar nas coisas só para "se garantir". A análise honesta e racional exige que todas as crenças sejam tratadas como elas mereçam e não com o mérito das conseqüências que as pessoas podem imaginar que existam.

E, se nenhum deus existisse, não seria verdade que aceitando-se Jesus ou outro profeta, messias, etc., nada se perderia. Seria gasto tempo e perder-se-ia calorias com práticas inúteis já que os vários rituais religiosos (missas, cultos, orações, preces, etc.) não funcionariam. Melhor seria se concentrar naquilo que realmente poderia resolver seus problemas.


2 comentários:

Anônimo disse...

O que ocorre é que esta aposta não é em DEUS, mas no deus que existe na cabeça da pessoa que foi criado pela sua educação, e não por alguma verdade! E por ter sido ensinado a acreditar no deus, acredita que exista algum Deus!

Leandro disse...

Olá Paulo!

As religiões são bastante estranhas mesmo. No sentido da 'lógica' que tentam empregar para parecerem certas.

Uma vez ouvi o seguinte raciocínio circular:

"A Bíblia é a Palavra de Deus porque ela é perfeita. E como sabemos que ela é perfeita? Porque ela é a palavra de Deus".

Então você não poderia questioná-la. Se disser "ei esta passagem contradiz com aquela outra". Você ouviria "a Bíblia é a Palavra de Deus, não há erros, você não pode questionar porque é a Palavra de Deus".

Mas quem falou que é a Palavra de Deus? "ora, porque ela é perfeita". E quanto aos erros que estou te mostrando? "como ela é a Palavra de Deus, ela é perfeita e não pode ser questionada".

Quase toda a lógica religiosa se resume a tautologias.

Abraços.