A Experiência de Quase Morte (EQM)


Seria possível "sair do corpo"? Imagem retirada daqui.

Imagine que exista alma (ou espírito ou este alegado "ente" que várias religiões afirmam que temos). Aquele "fantasma dentro da máquina". Continuando, suponha ainda que quando morrermos este ente se liberta de alguma maneira. Bem, se isto fizesse algum sentido, então, talvez, em experiências de quase morte (EQM, ou, em inglês, Near Death Experience, NDE), a pessoa sinta sair do corpo ou veja um túnel de luz.

Isto incentivou alguns teístas a acreditar que os relatos sentidos por quem passou por experiências assim serviria de prova. Mas será que o sentiram foi mesmo real? Ou foi apenas uma ilusão?

Alguns dos defensores do desdobramento astral, por exemplo, do movimento gnóstico, acreditam ser possível sair do corpo. Eles dormiriam, sonhariam com algo e depois, caso se lembrassem do que sonharam, alegariam que não foi sonho e sim uma experiência que realmente aconteceu. (Futuramente, falaremos aqui sobre isto também). Alguns defensores do desdobramento astral poderiam sentir tentados a usar os relatos das sensações e EQM como indícios de que é possível mesmo "sair do corpo".

As partes grifadas assim foram grifadas por mim. Embora o texto não seja novo, vale a pena ler (ou ler de novo). Segue a notícia.


Eu me vi lá de cima
Cientistas mostram que estimulação elétrica do cérebro cria experiência extra-corporal


Detalhe da tela Estação de Perpignan, de Salvador Dalí (1965)

Os filmes já mostraram a cena várias vezes: enquanto a equipe da emergência lança mão dos últimos recursos de ressuscitação, o paciente, cujo coração já parou de bater, vê um túnel de luz, avista seu corpo lá de cima e é acolhido serenamente por um parente querido. Assim seria a passagem para o lado de lá da vida -- exceto nos casos em que, por desígnio divino, insistência dos médicos ou pura sorte mesmo, a pessoa volta para contar a estória.

Uma mulher na Suíça, no entanto, acaba de ter uma experiência parecida -- sem correr o menor risco de vida. A paciente, que há 11 anos sofria de epilepsia, estava sendo avaliada para uma cirurgia de remoção do foco epiléptico. Como nenhuma lesão era visível no exame por ressonância magnética, a equipe do Dr. Olaf Blanke, do Hospital Universitário de Genebra, usou eletrodos posicionados sobre o cérebro da paciente para localizar precisamente a região do cérebro a ser removida.

Como a atividade elétrica do cérebro é anormal sobre o foco epiléptico, o simples registro pelos eletrodos é suficiente para indicar sua posição. No entanto, um procedimento adicional é de praxe: usar os eletrodos também para estimular regiões precisas do cérebro e, desse modo, identificar zonas 'vitais', saudáveis, que não devem ser removidas.

A estimulação é feita com o paciente acordado e consciente, para que ele possa relatar as sensações provocadas. Estimular o cérebro com pequenas correntes elétricas não dói: embora receba sinais dos nervos do corpo todo, o cérebro não tem nervos que enviem sinais dele mesmo. Tudo corria como de costume com essa paciente de 43 anos: a estimulação de zonas auditivas, somatossensoriais ou motoras no cérebro provocava sensações auditivas, corporais ou movimentos do corpo.

Até que a estimulação em dois dos 64 pontos testados do lado direito do cérebro provocou uma sensação inusitada de deslocamento -- ilusório, claro -- do corpo inteiro: ao receber uma pequena corrente elétrica sobre o giro angular, a paciente sentia-se 'afundando na cama', ou 'caindo no vazio'. A equipe, claro, não parou aí. Testaram uma corrente elétrica um pouco mais forte sobre os mesmos pontos e, como num filme sobrenatural, a sensação transformou-se em uma verdadeira experiência extra-corporal: de olhos abertos, a paciente dizia ver lá de cima, como se levitasse próxima ao teto, seu corpo deitado na cama.

Experiências extra-corporais 'naturais' costumam ser transitórias e geralmente desaparecem quando se tenta inspecionar diretamente as partes do corpo envolvidas. Com a experiência extra-corporal provocada pela estimulação elétrica -- e relatada pela equipe de Blanke na revista Nature em 19 de setembro -- não foi diferente: quando a paciente fechava os olhos durante a estimulação ou olhava diretamente para seus braços e pernas, eles apenas pareciam se mover em direção ao corpo, ou encolher.

A posição do giro angular é privilegiada para integrar informações relativas à posição e a sensações complexas do corpo: ele fica na borda do lobo parietal, que já havia sido implicado anteriormente na percepção do espaço corporal, ou seja, na localização de objetos em relação ao corpo. De quebra, outro vizinho próximo é o córtex vestibular, que processa informações relativas à orientação da cabeça em relação à gravidade, inclusive sensações de peso ou leveza. Com vizinhos desse calibre, o giro angular talvez seja o lugar do cérebro onde nossa 'visão' interna do corpo é criada.

Se for assim, a dissociação do corpo que caracteriza a experiência extra-corporal poderia ter uma explicação simples: uma falha na integração sensorial e vestibular que o giro angular normalmente desempenharia, causada, por exemplo, pela estimulação elétrica. Ou, na experiência de quase-morte, pela falência metabólica do cérebro.

Esta, de fato, é a explicação alternativa para quem quase foi, voltou e ficou tentado a acreditar que esteve do lado de lá mesmo. De acordo com a 'hipótese do cérebro morrendo', defendida pela psicóloga Susan Blackmore e pelo neurocientista Michael Persinger, as experiências de quase-morte refletem o funcionamento residual em um cérebro que já não recebe o suprimento habitual de oxigênio e glicose.

O giro angular, cuja estimulação elétrica é capaz de gerar a percepção de desligamento do corpo, vem agora integrar o rol das regiões do cérebro normalmente responsáveis pelas sensações vividas durante a experiência de quase-morte. Talvez não por coincidência, todas essas regiões -- inclusive o giro angular -- têm algo em comum: elas dividem o suprimento de sangue fornecido pelas artérias cerebrais posteriores, que irrigam a parte de trás do cérebro. Quando o corpo começa a se desligar, talvez um dos resultados seja uma 'ativação de despedida' dessas zonas do cérebro -- e, com ela, as experiências que quem volta pode contar.

De qualquer forma, o fato de a percepção extra-corporal ser um fenômeno do cérebro, e não o desligamento da alma, não diminuiria a experiência na hora da quase-morte. E se isso de fato acontecer rotineiramente na hora da morte? Quer maneira mais bonita de se ir embora do que se despedir serenamente do corpo para ser acolhido por parentes queridos e saudosos? O cérebro, que nos permite uma vida prazerosa, pelo jeito até nos últimos momentos garante um final tranqüilo e digno a toda sua existência.

Suzana Herculano-Houzel
O Cérebro Nosso de Cada Dia



Fonte:
Blanke O, Ortigue S, Landis T, Seeck M (2002).
Stimulating illusory own-body perceptions. Nature 419, 269-270.

Para saber mais:
Greco A. O que ocorre na ante-sala da morte. Cardiologista rompe o silêncio da ciência sobre relatos feitos por pessoas "ressuscitadas". Revista Galileu, abril de 2002, n. 129, 34-41.

Persinger MA (1999). Near-death experiences and ecstasy: a product of the organization of the human brain? Em Mind Myths. Exploring popular assumptions about the mind and brain, Della Sala S (ed.), John Wiley & Sons, New York.



Fonte: Revista Ciência Hoje





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11 comentários:

Anônimo disse...

Praticamente, com está experiencia da mulher de 43 anos, foi derrubado o pilar mais importante da crença mistica. Ja nao ha materia que justifique o abuso da credulidade das pessoas...

Porem, é logico que 98 por cento das pessoas deve desconhecer a explicaçao cientifica por tras destes estudos cientificos, e isso é que manterá acessa a ideia de "vida" depois da morte. Outra vez restá a impressao de que religiao é o culto a ignorancia.

O que será que diz o pessoal que ministra "doutrina cientifica" nos centros espiritas?

O espiritsmo está morto..r


Alvin Clinton.

Anônimo disse...

01/11/2007 - 11h38 FOLHA ONLINE
Paciente experimenta viagem fora do corpo acidentalmente

da Reuters

Um homem de 63 anos que teve eletrodos instalados em seu cérebro para tratar um problema auditivo passou acidentalmente por uma experiência de viagem extracorporal, a sensação de deixar o próprio corpo.

O caso foi relatado em um estudo publicado ontem por pesquisadores da Universidade de Antuérpia (Bélgica) na revista médica "New England Journal of Medicine".

A sensação foi percebida por duas vezes, durante 15 e 21 segundos, respectivamente. Um equipamento de monitoramento especial foi usado pelos cientistas para ver quais as partes do cérebro ficavam ativas durante o processo neurológico.

Segundo os pesquisadores, a experiência extracorporal induzida pelos eletrodos foi semelhante a outras já relatadas por pacientes de epilepsia e de alguns tipos de dor de cabeça.

Anônimo disse...

O espiritismo foi morto ao nascer dando reconhecimento a homeopatia! Obra do mesmo homem. Se os espíritos não sabem que era uma fraude, o que poderiam saber de útil? AH, sim, a Vida nos outros planetas do sistema solar e a história do desaparecimento da Atlântida, divulgadas por Edgar Cayce, Ercílio Maes e Chico Xavier! Já algum sítio arqueológico que almas humanas sofreram sacrifícios bestiais em nome da divindade, jamais revelaram!

helena disse...

experiência extracorporal, terei coragem de fazer, assim minha vida
teria mais sentido em saber que em
outro espaço (tempo) continuarei a viver...
mas será que vai ser bom ,
saber os mistérios da vida?

se um dia eu souber eu te conto...

mecews disse...

vesti,

me conte sim. Adoraria saber.

bjs

Anônimo disse...

sinceramente fico pensando. o que é mais fantasioso ? Tudo surgir do acaso ou uma inteligencia superior q ainda estamos longe de compreender nos criou.. É preciso muita fé tbm pra crer no big bang.

Leandro disse...

Anônimo disse...

sinceramente fico pensando. o que é mais fantasioso ? Tudo surgir do acaso ou uma inteligencia superior q ainda estamos longe de compreender nos criou.. É preciso muita fé tbm pra crer no big bang.


Olá Anônimo. Grato por postar.

Escrevi duas mensagens resposta.

Vale a pena você ler.

Se não entender o que escrevi no começo (por ser meio técnico ou específico) peço que continue.

A Scientific American é uma das 3 revistas científicas de maior impacto. Nature e Science fazem parte das 3 grandes. Na Scientifc American Brasil de junho de 2003 saiu um artigo de título O jogo de Espelhos dos Universos Paralelos interessante sobre os alguns cenários possíveis dentro da Cosmologia. Baseados em evidências, obviamente.

As evidências são

(I) distribuição da radiação cósmica de fundo e o arranjo de matéria em grandes escalas no Universo.

(II) a Relatividade Geral de Einstein impõe condições para topologias de um Universo finito. Estas condições vem sendo violadas.

(III) comportamento dos inflaton, cuja existência explicaria características observadas no espaço-tempo do Universo: tamanho, uniformidade e curvatura.

(IV) quebra espontânea de simetria. Observada tanto a nível de partículas e campos como no estado sólido de muitos materiais.

(V) atribuição mais física a função de onda de Schroedinger: se a Equação de Schroedinger governasse todo o processo, não haveria colapso da função de onda e o Problema da Medida seria solucionado. Trata-se de dar uma realidade física ao espaço de Hilbert da Mecânica Quântica. Por mais que pareça puramente teórica, ela fica de acordo evidências experimentais.

(VI) A existência objetiva da matemática. Ao ponto de matemáticos costumarem dizer que não criaram as estruturas matemáticas, mas as descobriram. De acordo com o paradigma de Aristóteles a realidade física é fundamental e a linguagem matemática é uma aproximação útil. De acordo com o paradigma de Platão a estrutura matemática é a realidade verdadeira e os observadores a percebem de forma independente. De qualquer maneira muita matemática foi criada em teorias científicas à partir de observação. De outro lado muitas realidade física só foi procurada porque a matemática presente em teorias científicas previram sua existência.

Na Cosmologia Multiverso designa cenários nos quais existem vários Universos.

Multiverso do tipo 1:
Tal hipótese fica de acordo com as evidências experimentais I e II acima. Outros Universos existiriam além do Horizonte Cósmico. Observadores nestes outros Universos estariam sujeitos às mesmas leis da física que nós, mas com condições iniciais diferentes. Cada Universo está separado um do outro espacialmente.

Multiverso do tipo 2:
Tal hipótese fica de acordo com as evidêncais experimentais I, II, III e IV acima. Outros Universos teriam outras dimensões do espaço-tempo, e as constantes da física seriam diferentes.

Multiverso do tipo 3:
Possibilidade se a exigência V for confirmada. Cada Universo estaria numa dimensão diferente. Mas o Multiverso todos os Universos) seriam controlados pela mesma função de onda.

Multiverso do tipo 4:
Aliado as evidêncais I, II, III, IV e VI além da exigência V, os Universos do Multiverso do tipo 4 variariam não apenas em localização, propriedades cosmológicas ou estado quântico, mas também em leis físicas. Por exemplo, planetas em alguns destes Universos teriam órbitas completamente diferente dos planetas no nosso Universo.

[CONTINUA]

Leandro disse...

[CONTINUAÇÃO]

Na Cosmologia Multiverso designa cenários nos quais existem vários Universos.

Multiverso do tipo 1:
Tal hipótese fica de acordo com as evidências experimentais I e II acima. Outros Universos existiriam além do Horizonte Cósmico. Observadores nestes outros Universos estariam sujeitos às mesmas leis da física que nós, mas com condições iniciais diferentes. Cada Universo está separado um do outro espacialmente.

Multiverso do tipo 2:
Tal hipótese fica de acordo com as evidêncais experimentais I, II, III e IV acima. Outros Universos teriam outras dimensões do espaço-tempo, e as constantes da física seriam diferentes.

Multiverso do tipo 3:
Possibilidade se a exigência V for confirmada. Cada Universo estaria numa dimensão diferente. Mas o Multiverso (todos os Universos) seriam controlados pela mesma função de onda.

Multiverso do tipo 4:
Aliado as evidêncais I, II, III, IV e VI além da exigência V, os Universos do Multiverso do tipo 4 variariam não apenas em localização, propriedades cosmológicas ou estado quântico, mas também em leis físicas. Por exemplo, planetas em alguns destes Universos teriam órbitas completamente diferente dos planetas no nosso Universo.


Como conciliar as evidêncais I, II, III, IV e VI além da exigência V acima citadas com nossos livros sagrados? Alcorão, Bíblia, Livro dos Espíritos, etc, tem algo a dizer além do chavão que nada explica "deus quis assim"?

Teólogos do passado: Deus fez tudo para nós observássemos. Tudo era para admirarmos sua grandeza. E como seres principais, observadores privilegiados, tudo giraria em nossa volta: seríamos a "melhor espécie", "dominaríamos" os demais animais, etc. A Terra seria o Centro do Universo ... mas com Galileu, percebemos que nem tudo gira em torno da Terra. Um telescópio mostrava que luas giravam em torno de Júpiter. Teólogos da época recusavam evidências - não queriam olhar pelo telescópio.

De fato temos descoberto um Universo do mundo das partículas, cordas, até buracos negros, galáxias, passando pela natureza humana e suas limitações (a fé não move nem uma agulha, faça preces para ver, digo não ver). E neste mundo de descobertas, na pareceu o que previram nossos escritores de livros "sagrados" (Alcorão, Bíblia, Livro dos Espíritos, etc). Baseando-se apenas no conhecimento mais primitivo da época estes escritores não puderam ir além. E se disseram que estavam inspirados por algum ente ou deus então ou mentiram ou alucinaram.

Citando Hélio Schwartsman, filósofo:
"Afinal, Darwin, Marx, Freud e Einstein provaram duas ou três coisinhas bastante interessantes. Mostraram que o homem, um bicho como qualquer outro, não comanda a história nem mesmo a psique humana. Pior, o próprio Universo funciona sem Deus, que pôde enfim ser reduzido a uma simples metáfora."



Abraço

Flávio disse...

Meu pai disse uma vez para mim: O conceito que temos de Deus é mera especulação filosófica. A criatura jamais poderá entender o Criador em sua essência. Tudo o que dizemos, falamos ou pensamos sobre Deus é limitado por nossa mente limitada. Resumindo, apenas conjecturas filosóficas. Eu me atrevo a dizer: do mesmo modo que o conceito da existência de Deus pode ser resumido a especulações filosóficas, o conceito da não existência de Deus também pode ser mera especulação filosófica. Nossa mente finita jamais irá entender o Todo em sua essência, por mais que desenvolva paradigmas, leis, postulados, etc.
Creio que Deus é algo maior que apenas aquele velhinho barbudo sentando em um trono em uma nuvem ou que o Big-Bang. O ato primordial da Criação, mesmo sendo explicado pelo Big-Bang e desenvolvido por Halwing ou Einstein pelas teorias de espaço-tempo não são provas irrefutáveis da inexistência de um Criador inteligente, seja Ele quem for.

Lembranças do Futuro disse...

Eu consigo provar pra qualquer um a prova da alma: morram :) e se não tiver nada, vocês venceram.

Unknown disse...

Acredito na pesquisa.Mas o olhar do pesquisador deve ser imparcial.
Não pode se deixar levar pelas sua incredulidade.
O fato da experiência levar a pessoas ter uma experiência extra corpórea pode significar outra coisa.
Como explicar um cérebro morrendo estar mais consciente que um cérebro vivo.
As eqms são muito mais profundas que se ver fora do corpo.
O que dizer de pessoas que ouviram pensamentos ou que se encontraram com seres que disseram ser um filho que não chegou nascer ou um irmão.
Depois o caso é confirmado por outros envolvidos.
O que dizer de pessoas que conversaram com pessoas que morreram pos passar por uma eqm enquanto estavam ainda no hospital.
Então quer dizer que o cérebro funciona melhor quando estamos MORRENDO?
e muitos outros relatos...
Eqm não é só túnel de luz e se ver do teto.
Não estou falando de religião.
Estou falando de algo que precisa de mais atenção.